O pecado mora ao lado

Este é um blog religioso. Irreverente, mas religioso. Religioso, mas irreverente. Neste espaço, quero discutir a delicada questão do pecado. Não desejo lançar culpas sobre ninguém, apenas refletir sobre o assunto. Estão publicados aqui também alguns textos que produzi para O Redentor. (Carlos Eduardo Melo)

sábado, julho 02, 2011

O Sermão da Montanha (versão para educadores)


Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem.


Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens.


Tomando a palavra, disse-lhes:

- Em verdade, em verdade vos digo: Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque...

Pedro o interrompeu:


- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?


André perguntou:


- É pra copiar?


Filipe lamentou-se:


- Ih! Esqueci meu papiro!


Bartolomeu quis saber:


- Vai cair na prova?


João levantou a mão:


- Posso ir ao banheiro?


Judas Iscariotes resmungou:


- O que é que a gente vai ganhar com isso?


Judas Tadeu defendeu-se:


- Foi o outro Judas que perguntou!


Tomé questionou:


- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?


Tiago Maior indagou:


- Vai valer nota?


Tiago Menor reclamou:


- Não ouvi nada, com esse grandão aí na minha frente.


Simão Zelote gritou, nervoso:


- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto?


Mateus queixou-se:


- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!


Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:


- Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica? Quais são os objetivos gerais e específicos? Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?


Caifás emendou:


- O senhor fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades integradoras com outras disciplinas? E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais? Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?


Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:


- Quero ver as avaliações dos quatro bimestres e reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade. Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto. E vê lá se não vai reprovar alguém!


Foi nesse momento que Jesus disse aos céus: "Senhor, por que me abandonastes..."


(Autor desconhecido - ao menos por mim)


segunda-feira, junho 13, 2011

Você quer estragar seu relacionamento? Então se case.

Disse o jovem padre durante a homilia: - O casamento deve ser para sempre, mas Deus não quer que ninguém sofra. Se num casamento não há respeito, as brigas acontecem diariamente, o que se deve fazer? Continuar insistindo nesse martírio diário ou procurar ser feliz de outra forma, num outro relacionamento ou mesmo sozinho?

A igreja ficava num tradicional bairro de classe média do Rio de janeiro. A assembleia era bastante variada, mas nos primeiros bancos era composta, em sua maioria, por senhoras com idades entre 60 e 70 anos. A pergunta do padre era mais de retórica do que propriamente um questionamento dirigido ao público presente àquela missa. E, pelo teor das palavras empregadas (sofrimento, brigas, martírio, em contraposição a ser feliz), dava bem para desconfiar qual linha de raciocínio o jovem celebrante pretendia seguir.

A resposta que veio dos assentos mais próximos ao altar, porém, foi taxativa:

- Insistir! Continuar!

Como diriam os antigos locutores de boxe, o padre balançou nos calcanhares, mas não caiu; assimilou o golpe. Tergiversou, evitou o confronto ideológico e tratou de abordar outro ponto menos conflituoso do evangelho do dia.

Óbvio que não cabe a padre algum que não pretenda ser punido questionar antigos preceitos da Igreja Católica. O melhor caminho para qualquer mudança dogmática certamente não é uma pregação polêmica numa missa, sobretudo em uma igreja de um bairro conservador. Isso, o jovem padre percebeu - como os mais atentos puderam ver ao reparar seu desconcertado sorriso amarelo, diante das respostas convictas das senhoras paroquianas de cabelos tingidos dos mais variados matizes.

Independentemente de ser bem-formado ou não, se um jovem padre ameaça questionar um costume tão arraigado na coletividade quanto o casamento, é porque realmente as evidências ganharam uma proporção tal que não se pode mais ignorá-las, ou sequer fingir que não existam. Convenhamos que é preciso admitir que, de fato, algo não vai lá muito bem mesmo com a sagrada instituição do matrimônio – e, por conseguinte, com a preciosa célula mater da sociedade, a Família.

Não se trata, contudo, de falência do núcleo familiar em si. Os novos formatos de famílias, frutos de uniões desfeitas e de posteriores novas uniões, comprovam isso. O insucesso parece ser, isso sim, do sacramento do matrimônio, cuja indissolubilidade é decretada pela Igreja.

Do chulé ao mau hálito, da falta de caráter ao alcoolismo, razões não faltam para se (tentar) justificar o ocaso de um casamento. Fim do amor e fim do respeito, entretanto, parecem ser os mais fortes argumentos a favor do rompimento; afinal, como disse o jovem padre lá do início, quem, nos dias de hoje, aceita viver um martírio diário de brigas, ofensas e humilhações? Nem a existência de filhos consegue mais sustentar uma situação assim degradante. Já, por sua vez, alegar a ação da rotina, que, realmente, desgasta qualquer relacionamento, para explicar a interrupção de uma união estável é uma tamanha demonstração de imaturidade, de inconstância, de falta de preparo para assumir com responsabilidade a criação de uma família, que, para evitar comentários desdenhosos entre familiares e amigos, convém que se procure outro pretexto.

Certa vez um amigo me disse que tinha uma teoria a respeito desse negócio de casamento e separação.

- Se todos os casais pudessem morar em casas bem grandes, de dois, três andares, o número de divórcios ia cair pela metade. Quando um estivesse de picuinha com o outro, ficava cada um num andar da casa e pronto. Não se viam, não precisavam falar. No dia seguinte, ficava tudo bem. Agora vai brigar em apartamento pequeno, com um banheiro só. Tudo é motivo de mais briga e mais discussão.

De fato era uma tese bastante respeitável – e seria bem mais até, não fosse ele um solteirão convicto, absolutamente avesso ao casamento.

E agora alguns ainda andam por aí defendendo o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não tenho muitos argumentos para dizer se isso é bom ou ruim, ao menos não sem ferir certas suscetibilidades, por isso abstenho-me de opinar. Que cada um faça a sua opção. Não dá para dizer, por exemplo, que à uma união homossexual é preferível se coabitar com 13 gatos, ou com um cachorro, ou com uma galinha – e convém ressaltar que não há nenhuma metáfora de duplo sentido oculta aí nessas entrelinhas; refiro-me aos animais domésticos mesmo.

O que fica evidente nessa história toda é que o matrimônio, nos moldes tradicionais, já não é mais o sonho idealizado que era antes. Por isso, diante da constatação de que esses acontecimentos são cada vez mais raros, vou listar abaixo uma relação dos aniversários de casamento e suas respectivas bodas comemorativas, para o caso de alguém desejar celebrar.

Até onde sei, vale para qualquer tipo de união.

1 ano – bodas de algodão

2 anos – bodas de papel

3 anos – bodas de trigo ou de couro

4 anos – bodas de flores e frutas ou de cera

5 anos – bodas de madeira ou de ferro

10 anos – bodas de estanho ou de zinco

15 anos – bodas de cristal

20 anos – bodas de porcelana

25 anos – bodas de prata

30 anos – bodas de pérola

35 anos – bodas de coral

40 anos – bodas de rubi ou de esmeralda

45 anos - bodas de platina ou de safira

50 anos - bodas de ouro

55 anos - bodas de ametista

60 anos - bodas de diamante ou de jade

65 anos - bodas de safira

70 anos - bodas de vinho

75 anos - bodas de brilhante ou de alabastro

80 anos - bodas de nogueira ou de carvalho


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segunda-feira, abril 18, 2011

Polêmica


Ainda outro dia, por conta de recentes e polêmicos casos de manifestações racistas e homofóbicas que ganharam as manchetes, estive pensando (este esporte radical, para poucos iniciados) a respeito dessas questões sob a ótica do pecado (meu assunto preferido, dirão alguns; apenas o tema preferido do blog, responderei eu). Afinal, é pecado ter aversão a homossexuais ou a negros?

Bem, se entendermos que Jesus está no outro e é a este outro que devemos amar para amarmos como Jesus ensinou, fica evidente que qualquer sentimento de rancor, desprezo ou ódio por alguém representado aqui pela ideia abstrata contida na palavra outro, então é, sim, pecado. Amar quem gosta de nós é fácil. Amar nossos pais, amar nossos filhos, amar a namorada/o, amar a vovó fofinha, o vovô legalzão, amar a professora boazinha, amar o vizinho gente boa, amar o amigo, amar aqueles que nos respeitam, tudo isso não requer nenhum esforço de nossa parte. Agora, vai amar aquele que te provoca, aquele que te desafia, que te irrita, que te incomoda; aquele que não gosta de você; o sujeito fedorento que encosta em você no metrô, a vendedora mal educada, o velho resmungão, o pivete, o mendigo, a periguete que dá em cima do teu marido, o fanfarrão que sopra galanteios na beira da calçada, a bicha-louca que te desconcerta, a sapatona que te enoja, o amigo maconheiro da sua filha, a amiga vadia do seu filho. É nestes que está Jesus, é a estes que se tem que amar sinceramente e não discriminar. Pensa que é fácil? É não. Há dias, até, por uma razão ou por outra, que é impossível. Se você não é capaz de amar assim e, pior ainda, faz toda a questão de repudiar todos os que são diferentes, então há, sim, em sua vida uma nítida situação de pecado, por mais que você reze, vá à missa e acenda velas.

Um dos fatos que motivou a recente discussão acerca do assunto foi uma declaração do deputado Bolsonaro em resposta a uma pergunta da cantora Preta Gil. Se ela fez a pergunta com propósito provocativo, ele não se intimidou e demonstrou ser uma pessoa preconceituosa, sem dúvida. Não me parece, porém, que nenhum dos dois esteja muito preocupado com a quebra de preceitos religiosos, tema aqui deste espaço. Em todo caso, o conflito trouxe à tona debates interessantes sobre democracia e respeito à opinião dos outros, já que foi curioso perceber que a grita dos que se sentiram atacados pelas palavras do deputado avançou com imperiosidade sobre o direito de alguém ter uma opinião diferente, o que justamente foi a razão inicial da discórdia.

Ocorre que há, em nossa sociedade, atualmente, um patrulhamento feroz em defesa das chamadas minorias. A predominância do politicamente correto abrange praticamente todos os setores da vida em comunidade. Em certas situações, talvez traga alguns benefícios, mas o excesso, não só de vigilância, como também de estridência nos protestos, provoca também muitos desacertos.

Um caso de grande repercussão, nos últimos dias, aconteceu com o jogador de vôlei, Michael, que foi vítima de suposto ataque de homofobia praticado pela torcida do time adversário, num jogo da semifinal da superliga. Apesar de todo o alarido histérico que cercou o assunto, cabe perguntar: pode-se dizer com convicção e absoluta isenção que houve ali, de fato, uma atitude homofóbica por parte dos torcedores, ou tudo não passou de provocação?

É preciso uma visão contextual para se fazer uma análise imparcial. O que pretende a voz das arquibancadas quando grita seus coros ofensivos sobre a moral dos atletas? Será que não é tão somente desestabilizá-los, torná-los mais fracos, menos eficientes na prática dos fundamentos do jogo em disputa?

Vejamos o futebol. Qual a intenção dos torcedores quando faziam o célebre coro de “chorão, chorão” para o tetracampeão Bebeto? Ou de “chincheiro” para o argentino Doval, ou ainda de “assassino” para o polêmico Edmundo? Obviamente, são gritos agressivos, que extravasam também forte carga de raiva, sentimento de que os jogos de futebol, por sua dinâmica eletrizante e passional, são repletos, mas são apupos que têm como objetivo (ofender, sim, mas para) principalmente perturbar o jogador da equipe adversária.

O cracaço do passado Heleno de Freitas, por exemplo, jogador irascível e temperamental, que era chamado de Gilda pelos torcedores adversários, numa alusão à personagem interpretada por Rita Howard num clássico do cinema de então. Eram outros tempos, mas, mesmo hoje, não consta que os gritos da torcida fossem tidos como preconceituosos ou homofóbicos. Mais recentemente, o ídolo Renato Gaúcho, que jogou por várias equipes e sempre foi acompanhado pelos gritos de “Renaaato-viaaado”, na mesma toada com que a sua própria torcida gritava “Renaaato-Gaúúúcho”. Até onde se sabe, nenhum movimento gay levantou a voz em repúdio às ofensas sofridas pelo moço ao longo dos anos. Certamente por ele não ser gay. Mas fica a dúvida: se o sujeito que não é gay e é chamado de gay não se ofende, por que aquele que se declara publicamente gay há de se incomodar quando o público o chama de gay numa partida?

E o que dizer então do folclórico Chicão, antigo centroavante do Botafogo, brindado pelos torcedores adversários com o coro “Chicão, Chicão, filho da puta, cabeçudo e orelhão”? Nenhum grupo defensor dos mal-acabados fisicamente jamais veio em seu socorro. Um pecado.


quarta-feira, abril 13, 2011

Pra não dizer que não falei de bullying


Ainda o massacre de Realengo. Durante muito tempo ainda vai-se falar desse triste atentado, que vitimou doze crianças numa escola pública no subúrbio carioca. Por mais que já se tenham derramado todas as lágrimas pelos “brasileirinhos” mortos (expressão utilizada pela presidente, com carga mais pesada de demagogia do que a carga de munição que carregava o próprio atirador) e derramado também todo o ódio contra o pobre coitado, sua família e sua religião, parece que há muito ainda a se esmiuçar neste caso. E assim será feito - nem que seja para que não torne a acontecer nada sequer parecido.

O noticiário está farto de assuntos, repleto de desdobramentos do caso, como deve proceder mesmo o jornalismo diante de um acontecimento tão espetacular. Policiais, políticos, psicólogos, professores, ex-colegas, estão todos na mídia com uma opinião a respeito da personalidade do rapaz que voltou à escola onde estudara e abriu fogo contra a criançada indefesa - e todos têm dicas e planos para evitar, futuramente, semelhante tragédia. Busca-se com avidez entender o funcionamento de uma mente evidentemente doentia (e sem tratamento adequado, diga-se), procuram-se por amigos, comparsas, mentores, qualquer pessoa que possa ter tido alguma ligação com o atirador e, direta ou indiretamente, tê-lo motivado, com ensinamentos operacionais ou ideológicos, ou, ainda, com incentivos de qualquer outra natureza, a cometer o terrível ataque. A sanha com que a opinião pública persegue esse objetivo é, logicamente, para encontrar alguém que pague pelo crime, algum infeliz desnaturado que possa ser responsabilizado pela barbárie, já que o assassino acabou se suicidando depois de ter sido ferido por um policial e não pode ser alcançado pela justiça dos homens.

O mais curioso (e significativo) nesse episódio de demonização do jovem atirador é a (conveniente?) miopia dos investigadores, todos eles, sejam profissionais, sejam diletantes, sejam oportunistas. A verdade está diante dos olhos de qualquer um que tenha acompanhado o noticiário, mesmo assim ninguém parece poder (ou querer) enxergar. É quase uma cegueira coletiva opcional.

O estudo da natureza humana é um rico manancial para escritores, pesquisadores e doutores de variados currículos. Suas atitudes, seus comportamentos, quando bem analisados, denunciam, explicam, justificam inúmeras ações, situações, omissões e paixões (ah, as rimas...) – e certamente também o fazem em relação ao que aconteceu em Realengo.

Qualquer um com o mínimo de vivência sabe que há um tipo de gente que não reage aos ataques que sofre. Seja por fraqueza ou por covardia, por falta de amor próprio, ou até por algum distúrbio mental (não diagnosticado e tratado), em vez de se bater contra aqueles que o molestam, contrariam, agridem, oprimem, humilham, prefere se vingar, em vez de lutar. A maldade inerente à criança (tida como pura, sabe-se lá por quê), a falta de educação dos nossos meninos e meninas, a ausência de limites que deveriam ser impostos por pais cada vez mais ausentes, a nítida falência da instituição familiar, o posso-tudo-porque-estou-pagando, o te-esculacho-porque-você-é-feio (ou pobre, esquisito, bicha, lésbica, preto, ruivo, caolho, magro, gordo, tímido, espinhento, ridículo) são os vetores responsáveis pelo massacre perpetrado por alguém que foi sempre um alvo fácil (mudo e indefeso) de toda sorte de ataques. Está nos depoimentos e nas entrevistas.

Não basta, porém, estar diante dos olhos; é preciso enxergar. Não adianta revirar arquivos de computador, quebrar sigilos telefônicos e de internet, vasculhar cadernos e manuscritos. Buscar, unicamente dessa forma, um culpado para a fuzilaria no colégio é fazer como o cachorro que corre atrás do próprio rabo. A investigação sociológica precisa ser mais profunda, por mais que doa. O cúmplice invisível do atirador de Realengo somos todos nós.

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quarta-feira, março 23, 2011

Perdoai e sereis perdoados


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas (6,36-38)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
"Sede misericordiosos,
como também o vosso Pai é misericordioso.
Não julgueis e não sereis julgados;
não condeneis e não sereis condenados;
perdoai, e sereis perdoados.
Dai e vos será dado.
Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante
será colocada no vosso colo;
porque com a mesma medida com que medirdes os outros,
vós também sereis medidos."
Palavra da Salvação.



Estava pensando em pessoas que julgam os outros e sobre o mal que causam - sobretudo quando somos nós o alvo do julgamento delas. É preciso muita nobreza de sentimentos para não se deixar contaminar. Impossível não concluir o quão nocivas são essas pessoas, pois, ao enxergarmos nelas essa horrível característica, estamos nós também recaindo no mesmo erro, julgando-as. É como um vírus que se dissemina. Será que essas pessoas que nos julgam e nos rotulam não são tão ruins (ou ainda piores) quanto julgam que sejamos (ou tenhamos sido)?


Que a fofoca é um mal devastador todo mundo concorda, e nem é preciso um dia ter sido alvo de algum mexerico inconveniente para se saber disso. Mas e para quem espalha o boato, difunde à boca pequena certo segredo, qual a emoção? Por mais que semeie discórdias e arrase reputações, ou até por isso mesmo, vai saber, o mais provável é que a sensação seja de absoluto poder.

A vizinha faladeira, por exemplo. Ela sabe tudo o que acontece na casa ao lado, as brigas, os xingamentos, os choros; conhece até os gemidos da intimidade do casal, e os dias da semana que costumam acontecer; pode falar das visitas que a família recebe e das que não recebe; e tem a conta certinha das garrafas de bebida alcoólica que se avolumam junto à lixeira do corredor. Os comentários maldosos da vizinha faladeira, cochichados pelos cantos do prédio, não a envergonham pela indiscrição; são, isso sim, moça bem-informada que é, um motivo de satisfação e orgulho.

Outro lugar bastante propício para a propagação de fofocas, por mais surpreendente que isso possa parecer, são as sacristias. Nesses casos, especialmente, por ocorrerem em igrejas, locais onde deveria imperar o sentido de amor ao próximo, o que mais fica evidente é a distorcida noção de pecado, pois evidentemente, nas sacristias, os assuntos focalizados geralmente envolvem os desvios de comportamento de algum paroquiano. Contudo, para o “sacro-fofoqueiro”, apontar os deslizes do irmão de fé jamais configura um pecado. Trata-se de uma prova irrefutável de sua impoluta superioridade. Pecado cometeu o outro – e que seja por isso difamado e apedrejado.

A propósito, segundo o site jurídico www.jurisway.org.br,, na difamação, imputa-se a uma pessoa uma determinada conduta que macule a sua honra perante a sociedade, sem que esta conduta seja definida como ilícito penal. Não importa se a conduta imputada é ou não verdade, a mera imputação já configura o delito. Pena: detenção de 3 meses a 1 ano e multa – fora a conta do dentista.



Falar algo de alguém é fofoca quando o que é dito não contribui para a solução do problema da pessoa em questão.

Vinde, Senhor!

quinta-feira, outubro 22, 2009

Tempos Modernos



terça-feira, abril 14, 2009

"Senhor, faça-me casto, mas não agora". (1)


Alguns me perguntam de vez em quando por que este blog, que se diz sobre temas religiosos, tem em seu nome a palavra pecado. E, pior ainda, dizem, é o tom de ameaça presente na expressão “o pecado mora ao lado”. Parece que, a qualquer deslize, nossas virtudes sucumbirão e cairemos em tentação. Como jamais cogitei trocar o nome do blog e minhas convicções acerca desse assunto são bastante firmes, eu invariavelmente respondo que é exatamente assim. O pecado está sempre ao nosso lado, tão perto que às vezes se pode sentir o cheiro do seu perfume, escutar o som da sua respiração. Ele nos olha, nos chama pelo nome, ou pelo nome de que mais gostamos de ser chamados. Acenar, atender, ir ao seu encontro são opções de cada um. Vai depender do poder da tentação sobre nossas vontades.

Não pensem que, por rezar, frequentar igreja e dar esmola aos pobres, ainda que seja um bom escudo de proteção, alguém estará imune a seduções pecaminosas. Mesmo o velho e bom Santo Agostinho, bispo católico, teólogo e filósofo, tido como Doutor da Igreja, em sua mocidade, cedeu aos apelos da sensualidade. É dele a conhecida frase: “Senhor, faça-me casto, mas não agora.”

Toda essa introdução foi pretexto para mencionar um fato que fiquei sabendo dia desses. Poderá chocar alguns e fazer, por isso, com que sejam emitidos os mais severos julgamentos e as mais duras sentenças. Mas que sirva ao menos para reflexão de advogados e de promotores, já que o episódio deu-se precisamente dentro de uma igreja. Bem, vou contar aqui o milagre acontecido da forma como me foi relatado, mas omitirei o nome do santo – e o da santinha também, lógico.

Huuummm... Já dá para imaginar o teor da historinha...